Uma vez me perguntaram o significado da vida. Confesso que no momento, pego de surpresa, não consegui definir
realmente o que seria, mas segui pensando... A vida começou a se descortinar na minha mente e comecei a defini-la
como uma colcha de retalhos.
É isso. A vida é feita de momentos. Momentos bons, inesquecíveis, momentos um tanto ruins e momentos muito
ruins, aqueles que fazemos questão de esquecer. A vida deve ser vivida com toda intensidade merecida por cada momento. A cada ocasião um nível de intensidade, mas sempre com o ardor que
cada um deles merece.
Há momentos em nossas vidas que as reminiscências nos levam à infância
e revivemos aqueles tempos felizes, inocentes, quando as brincadeiras eram
tudo. Vem depois a adolescência e seus períodos muitas vezes fugazes, que
nem lembramos, românticos, de sonhos com quem julgávamos amar definitivamente e
que, algum tempo depois, se transformava em fumaça. Lembramo-nos dos momentos
de sonhos com o futuro, no qual traçamos linearmente os nossos desejos de
sucesso nos estudos, na profissão, na vida futura, com a nossa cara metade ao
lado e o desejo de envelhecermos na alegria de um lar feliz, rodeados dos
filhos, netos...
Esse sentimento permanece até chegarmos à fase adulta, quando as responsabilidades
começam a nos consumir, a exigir cada vez mais de nós. Achamos o nosso par e
constituímos uma família, um lar onde a ternura e o amor deveriam morar
definitivamente, mas, mais uma vez, as coisas se complicam e os nossos sonhos
são desvanecidos pela dificuldade de uma convivência que começamos em alguns
momentos a estranhar. Nem tudo é um mar de rosas, mas superamos esses momentos
difíceis e conseguimos viver de forma a nos completarmos. Começamos a entender
que a felicidade deve ser conquistada a cada dia, a cada hora, mais ainda, a
cada minuto. Tem início aí uma nova forma de viver.
As nossas conquistas são celebradas e as nossas desilusões,
esquecidas. Mas uma vez mais a vida nos dá um tranco, entendemos que tudo deve ser
compartilhado para que a carga toda não caia em nossos ombros. A divisão das
responsabilidades, dos desejos, das conquistas e derrotas torna a nossa vida
mais fácil e aprendemos, mais uma vez que os nossos momentos devem ser vividos
intensamente e também compartilhados.
Aprendemos que o amor não é um momento que vivemos na cama, mas um
sentimento que deve perdurar por nossa vida inteira. Deve ser compartilhado
também, pois é desse compartilhamento que nascem novas esperanças, lutas e
conquistas.
Já foi dito que ninguém é um caramujo ermitão, vivendo sozinho em uma
concha, fechado em si mesmo, sem comunicar-se com o seu próximo, sem soltar os
seus sentimentos, trancado no seu íntimo sem compartilhar seus sofrimentos, seus
desejos...
Entendemos que a vida é curta e que chega ao seu final quando menos
esperamos. Seria bom ao chegarmos à nossa velhice, termos condições de analisar como
vivemos e então vermos que a vida é, na realidade, uma colcha de retalhos
costurada com os momentos vividos. Uns com muita intensidade outros nem tanto,
mas estão ali todos os nossos momentos. E é nesse instante que vamos entender se
a nossa vida valeu ou não a pena.
Quantos momentos felizes tivemos? Quantos foram tristes? Quantos foram
motivos de luta, de satisfação, de desejos frementes, alegrias contidas ou não. Tudo está ali na nossa frente. A nossa colcha de retalhos, a nossa
vida que, sendo difícil ou não, valeu a pena ser vivida com toda intensidade, de
forma que o arrependimento não bata em nossos corações por não termos vivido um
dos momentos com a intensidade merecida.
A nossa vida não deve ser medida pelos arrependimentos, mas pelos
momentos vividos com a magnitude merecida. Dessa forma estaremos cumprindo o
que nos foi proposto para viver na vida. Deitamos a cabeça no travesseiro e descansamos satisfeitos com o que vivemos...
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