Nossos amigos partem deste mundo deixando saudades, um que de perplexidade por sua passagem desta para melhor. Entretanto isso não deveria ser motivo de espanto, tendo em vista que a única certeza que temos após o nosso nascimento, é o da morte certa. É até meio que pesaroso tratarmos desse assunto, mas o que quero mostrar nesta postagem é que a preparação para a única certeza de nossas vidas é o melhor caminho para o ser humano. A preparação do seu espírito para o grande encontro com o nosso Mestre. Pensando em uma situação vivida recentemente por um amigo nosso, tentei colocar nesta postagem tudo o que senti diante do inevitável.

Boa Viagem, Meu Amigo!

Ainda ontem conversei com ele.
Parecia bem, corado, falante. Queria saber de todas as novidades. Fazia algum tempo que estava fora da cidade e havia perdido contato com a nossa realidade. Saiu para visitar parentes e amigos que moravam em sua cidade natal. Conversamos por um bom tempo, falamos de tudo um pouco: veleidades, política, família, saúde (aí ele ficou um pouco reticente) e sobre futebol.
Amigos de longa data, depois de algumas latinhas de cerveja e um peixinho frito para acompanhar, nos despedimos alegres com abraços e as promessas de nos encontrarmos em breve.
Esse breve foi hoje. Encontrei-o sob um lençol no necrotério do hospital onde se internou depois de uma síncope cardíaca. Seus familiares dizem que sequer houve tempo de atendê-lo de fato. Segundo os médicos chegou sem vida ao hospital. Foi levado mais por um desencargo de consciência, dizia a filha chorosa.
Ainda ontem conversei com ele...
Hoje lá estava ele, esticado sob um lençol branco, aguardando a liberação do corpo para o seu velório. A última visita dos parentes, amigos e curiosos. Sim porque em todos os velórios têm aqueles que não conheciam o finado, nunca o tinham visto na vida, mas lá estão firmes apresentando as suas condolências à família. Existem mesmo pessoas, mulheres, que choram copiosamente como se fizessem parte da família ou fossem amigos íntimos de longa data.
Ainda ontem conversei com ele...
A palidez em seu rosto em nada mostrava aquele homem que ontem estava corado, de bem com a vida. Era como se todo o sangue de seu corpo houvesse esvanecido. As manchas arroxeadas nas pálpebras, lábios, dedos, denotavam o rápido enfarto que sofrera.
Aí me pego pensando na vida, na morte, tecendo paralelos, tentando entender o que ainda me parece inexplicável. Acho que todos deveriam ter uma chance de perceber que o fim está próximo para que pudéssemos nos preparar. Mas, ao mesmo tempo, percebo o quanto Deus é perfeito nos deixando na ignorância a fim de que não sejamos levados a praticar loucuras que, se o soubéssemos, faríamos.
Ainda ontem conversei com ele...
Entendi que naquele momento ele nada sabia. Talvez nem mesmo pensasse na possibilidade de que isso viesse a acontecer. Ou estava preparado para aquele momento, quem sabe? Existem pessoas que têm plena consciência de que vão morrer em um futuro distante ou próximo e que, para tanto, estão em constante preparação. Não é nenhuma fatalidade esse fato, é sim a certeza de que mais dia, menos dia, iremos morrer. Devíamos nos preparar quotidianamente para esse momento, para que não fôssemos pegos de surpresa.
Ainda ontem conversei com ele...
Agora aí está ele pálido, com partes do corpo arroxeadas, mas um semblante sereno. Talvez, sempre tem um talvez, eu não o conhecesse bem e não soubesse de sua certeza no único e certo futuro: morrer. Talvez sabendo disso ele tenha se preparado, não digo por toda a vida, mas por parte dela e porque não dizer mesmo a vida toda? Ele era mesmo uma pessoa prevenida, sempre procurando se antecipar ao desconhecido futuro. Um cara previdente e, como tal, acho que estava preparado para o último momento que viveu. Aquele átimo de tempo no qual partiu-se o cordão de prata e deixou tranquilamente o seu corpo, a casca que envolvia o seu espírito e a partir daquele momento único, iria ao encontro do seu futuro espiritual.
Ainda ontem coversei com ele...

Hoje. Boa viagem, meu amigo! Nos encontraremos no futuro.

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